Espaço de debates aberto sobre a História do Anarquismo e, principalmente, sobre a Teoria Anarquista, que serve como momento de troca de experiências, contribuição para acúmulo literário e orientação acadêmica. Neste espaço estão sendo discutidos vários textos de autores clássicos.

2.12.05

Anarquismo como movimento ativista


Como movimento ativista, buscando mudar a sociedade por métodos coletivos, o anarquismo pertence unicamente aos séculos XIX e XX.
Houve épocas em que milhares de operários e camponeses europeus e latino-americanos seguiram as bandeiras negras ou rubro-negras dos anarquistas, revoltando-se sob a sua liderança e estabelecendo modelos transitórios de um mundo livre, como na Espanha e na Ucrânia durante períodos da revolução. Houve também grandes escritores, como Shelley e Tolstoi, que expressaram idéias essenciais do anarquismo em seus poemas, novelas e artigos. O sucesso do anarquismo, porém, variou muito porque ele é um movimento e não um partido. É um movimento que tem mostrado grande poder de renovação. No início da década de 60, parecia estar esquecido, mas hoje parece ser outra vez, como em 1870,
1890 e 1930, um fenômeno relevante.

Talvez a melhor forma de começar uma pesquisa sobre as atividades anarquistas seja estudar o primeiro homem a aceitar o título de anarquista: Joseph Proudhon, um profeta intelectual que uma vez
afirmou que "Ser governado é ser cuidado, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, e mandado por
homens que não têm nem o direito, nem os conhecimentos, nem valor para fazê-lo". Proudhon foi um gráfico quase totalmente autodidata, nascido na província montanhosa de Franche-Comté, na França, que em 1840 publicou um livro Qu'est-ce que la propriété? (O que é a propriedade?)
que exerceu grande influência sobre os círculos mais radicais do século XIX, tendo sido elogiado por Marx, que se tornaria mais tarde um feroz adversário de Proudhon. A resposta de Proudhon à pergunta que dá nome ao livro foi: "Propriedade é roubo". E essa frase, que identifica o capitalismo e o Estado como sendo os dois principais inimigos da liberdade, tomou-se um dos principais slogans do século.

Proudhon tomou parte na Revolução de 1848, ocorrida na França, e foi em grande parte por influência sua que a famosa e infeliz associação de socialistas europeus, a Associação Internacional Operária (mais
conhecida como Primeira Internacional) foi fundada em 1864, ano anterior à sua morte. Os livros de Proudhon forneceram a infraestrutura intelectual do movimento anarquista europeu. Michael
Bakunin, que se tornou um dos maiores ativistas anarquistas, sempre se referia a Proudhon chamando -o de "Mestre de Todos Nós".

Talvez um dos dados mais importantes sobre Proudhon seja que, apesar de sua influência e do número de adeptos que possuía, recusava-se a estabelecer uma doutrina dogmática como a que Marx transmitia a seus seguidores.

Quando um admirador elogiava o sistema por ele criado costumava responder, indignado: "Meu sistema? Eu não tenho sistema!" Ele desconfiava das estruturas teóricas do mesmo modo como desconfiava das
estruturas estatais. Para ele, nenhuma doutrina era completa: sua forma e seu significado mudavam de acordo com a situação. Proudhon sustentava que, assim como qualquer outro tipo de idéia, a teoria
política também passava por um processo de evolução constante.
Proudhon também negava que tivesse fundado um partido político – pois condenava todos os partidos, vendo neles simples variantes do absolutismo -, e isso era a rigor verdadeiro, embora ele próprio
tivesse reunido um grupo de discípulos que deu origem ao primeiro movimento anarquista. Quando eleito para a Assembléia Constituinte francesa durante a Revolução de 1848, agiu de acordo com suas idéias sobre a inutilidade dos partidos políticos.

1.12.05

Formas de Equilíbrio no pensamento Anarquista


Uma delas é o equilíbrio entre destruição e construção, que domina suas táticas. A outra é o equilíbrio entre liberdade e ordem, que faz parte de sua visão da sociedade ideal. Para o anarquista a ordem não é algo imposto de cima para baixo. É uma ordem natural que se expressa pela autodisciplina e pela cooperação voluntária. As raízes dopensamento anarquista são antigas. Doutrinas libertárias que sustentavam que, como ser normal, o homem pode viver melhor sem ser governado já existiam entre os filósofos da Grécia e da China Antiga, e entre seitas cristãs heréticas da Idade Média. Filosofiascuidadosamente elaboradas e que eram totalmente anarquistas começaram a aparecer já durante o Renascimento e a Reforma, entre os séculos XV e XVII, e principalmente no século XVIII, à medida que se aproximava a época das revoluções Francesa e Americana, que deram início à Idade Moderna.

Segue no próximo texto...

Historia do Anarquismo

ANARQUISMO
INTRODUÇÃO HISTÓRICA


1. TRADIÇÃO
Há uma grande confusão em torno da palavra anarquismo. Muitas vezes a anarquia é considerada como um equivalente do caos e o anarquista é tido, na melhor das hipóteses, como um niilista, um ho mem que abandonou todos os princípios e, às vezes, até confundido com um terrorista inconseqüente. Muitos anarquistas foram homens com princípios desenvolvidos; uma restrita minoria realizou atos de violência que, em termos de destruição, nunca chegou a competir com os líderes militares do passado ou com os cientistas nucleares de hoje. Em outras palavras, neste estudo estarão presentes anarquistas como foram e são, e não como aparentam ser nas fantasias de cartunistas, jornalistas e políticos, cuja forma predileta de ofender um oponente é acusá-lo de promover a anarquia. Estamos interessados em definir um grupo de doutrinas e atitudes cuja característica comum é a crença de que o Estado é nocivo e desnecessário. A origem da palavra anarquismo envolve uma dupla raiz grega: archon, que significa governante, e o prefixo an, que indica sem. Portanto, anarquia significa estar ou viver sem governo. Por conseqüência, anarquismo é a doutrina que prega que o Estado é a fonte da maior parte de nossos problemas sociais, e que existem formas alternativas viáveis de organização voluntária. E, por definição, o anarquista é o indivíduo que se propõe a criar uma sociedade sem Estado.
O conceito de sociedade sem Estado é essencial para a compreensão da atitude anarquista. Rejeitando o Estado, o anarquista autêntico não está rejeitando a idéia da existência da sociedade; ao contrário, sua visão da sociedade como uma entidade viva se intensifica quando ele considera a abolição do Estado. Na sua opinião, a estrutura piramidal imposta pelo Estado, com um poder que vem de cima para baixo, só poderá ser substituída se a sociedade tornar-se uma rede de relações voluntárias. A diferença entre uma sociedade estatal e uma sociedade anárquica é a mesma que existe entre uma estrutura e um organismo: enquanto uma é construída artificialmente, o outro cresce de acordo com leis naturais. Metaforicamente, se pode comparar a pirâmide do Estado com a esfera da sociedade que é mantida por um equilíbrio de forças. Duas formas de equilíbrio têm muita importância na filosofia dos anarquistas.
Segue no proximo texto.